Maldade
15/01/2019 - 10:18
Auto: REPRODUÇÃO /

Se pudesse, em todos os meus artigos eu elogiaria alguma conquista da sociedade. Diante de tal impossibilidade, só me resta calar e deixar a vida acontecer, ou, ser solidário com aqueles que sofrem.

Como médico, diariamente, sou procurado para resolver um problema humano voltado para a saúde. A carga de reclamações está centrada na Atenção Básica da Saúde, principalmente. A situação da UPA da Morada do Ouro merece uma reflexão.

Ninguém mais cobra um novo Pronto Socorro, a transformação do antigo Hospital Neurológico (privado) em hospital de média e alta complexidade, a conclusão do Hospital Central – vergonha com o desdém da saúde do pobre.

Nem se fala mais no “novo hospital” Julio Muller da UFMT, localizado na rodovia para Santo Antônio de Leverger, que seria construído em convênio com o governo do Estado e “inaugurado” em dezembro de 2013, servindo, com seus 250 leitos, de suporte ao grande evento internacional de junho – a Copa do Mundo.

Poucos se interessam em saber sobre as condições precárias de funcionamento do velho HUJM, totalmente sucateado, sem médicos e serviços essenciais dignos de um hospital de ensino.

A aquisição pelo Estado do Hospital Geral Universitário da Rua 13 de Junho ficou no discurso.

Mas, o grande problema inadiável no momento, é fazer funcionar os PSFs e, principalmente, a única UPA existente em Cuiabá, que fica na Morada do Ouro.

Há duas semanas, um amigo desesperado estava no tal do posto de urgência e emergência com a sua filhinha de quatro anos passando mal. Após longa espera foi informado que todos os pediatras tinham pedido demissão. Ao tomar conhecimento dessa barbárie, consegui para ele uma consulta cortesia com um pediatra no hospital onde trabalho.

As reclamações se avolumaram, e a espera para o atendimento de urgência e emergência nas Policlínicas e na UPA, que veio para desafogar o arcaico Pronto Socorro Municipal, é de, no mínimo, três horas e, muitas vezes, termina com um simples encaminhamento ao esgotado Pronto Socorro, por absoluta falta de recursos humanos e insumos básicos como seringas, gazes, analgésicos, material para uma pequena sutura, restando apenas o serviço de rebocoterapia.

Nenhuma providência de urgência e emergência foi tomada até o momento, e o fato é considerado normal pelas nossas autoridades para este período de festas e comemorações hipócritas.

Será que nem o espírito natalino sensibiliza os nossos governantes, tão generosos no aumento de seus salários e benesses?

Triste cidade onde a banda da desordem social passa desfilando pelas ruas e ficamos na janela do nosso comodismo e conformismo apreciando o seu desfile.

 

Gabriel Novis Neves,é Academico da Academia de Medicina de Mato Grosso, reitor-fundador da UFMT, médico ginecologista em Cuiabá, Mato Grosso. 

FONTE: PAGINA DO ENOK
EDIÇÃO: AM/MT